e citar Tournier:
"Há um milagre de que sou testemunha e actor várias vezes ao dia, e ao qual no entanto não me consigo habituar. Pego num maço de folhas de papel enegrecidas de sinais. Olho-as, e eis a maravilha: surgem no meu espírito senhores e belas damas, um castelo, um parque admirável povoado de estátuas ou de animais raros. Desenrolam-se histórias ofegantes, divertidas ou comoventes, de tal modo que tenho dificuldade em reter os meus arrepios, os meus risos ou as minhas lágrimas. E todas estas aparições apenas têm como origem aquele papel enegrecido. Que paradoxo!
Será que tais aparições não têm de facto outra origem a não ser aquele papel enegrecido? Reflectindo bem, há lugar para dúvidas. E então eu? EU, o leitor? É que esta fantasmagoria que se desdobra no meu espírito graças ao milagre da leitura é tanto obra do meu espírito como do próprio texto escrito. Sim, creio que um livro tem sempre dois autores: aquele que o escreveu e aquele que o lê. Um livro escrito, mas não lido, não chega verdadeiramente a existir. É um ser virtual que se esgota no seu apelo ao leitor; tal qual uma semente que perdidamente voa ao capricho do vento até que venha a tombar num pedaço de boa terra onde poderá enfim tornar-se ela própria, isto é: folha, flor e fruto."
Será que tais aparições não têm de facto outra origem a não ser aquele papel enegrecido? Reflectindo bem, há lugar para dúvidas. E então eu? EU, o leitor? É que esta fantasmagoria que se desdobra no meu espírito graças ao milagre da leitura é tanto obra do meu espírito como do próprio texto escrito. Sim, creio que um livro tem sempre dois autores: aquele que o escreveu e aquele que o lê. Um livro escrito, mas não lido, não chega verdadeiramente a existir. É um ser virtual que se esgota no seu apelo ao leitor; tal qual uma semente que perdidamente voa ao capricho do vento até que venha a tombar num pedaço de boa terra onde poderá enfim tornar-se ela própria, isto é: folha, flor e fruto."
Sem comentários:
Enviar um comentário