no Dia Nacional da Cultura Científica e, já agora, evocando os 105 anos do seu nascimento...
Lágrima de PretaEncontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
[António Gedeão (1906-1997)]
António Gedeão (pseudónimo de Rómulo de Carvalho) nasceu há 105 anos, a 24 de novembro de 1906. Reconhecido poeta do século XX português, Gedeão foi também professor de Ciências, escreveu peças e narrativas, investigou e divulgou ciência como poucos, valorizou a arte e a literatura a par da ciências. Da sua criação poética salientam-se obras como: Movimento Perpétuo (1956), Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967), Poesias Completas (1975), Poemas Póstumos (1983), Novos Poemas Póstumos (1990). Na narrativa - A Poltrona e Outras Novelas (1973) e no teatro, a peça RTX 78/24 (1963).
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