A Francisco Carmelo
“Depois de uma breve apresentação deste autor, feita pelo Coordenador da BE; seguiu-se a análise do livro de poemas Romance, levada a cabo por José M.Veiga, numa perspectiva sequencial dos elementos mais marcantes da obra. Tomando a palavra, Francisco Carmelo, prendeu a assistência falando de poesia, do acto criador, dos insights do poeta, da solidão, da vida e da morte, da celebração do Amor como Verdade, da justa medida das palavras e da harmonia do texto poético, entre tantas outras temáticas da história à arte, passando pela literatura. Ainda houve tempo para uma peça musical, da autoria de J. Veiga, inspirada em Romance.”
O excerto que acaba de ler é parte de um post publicado neste blogue, em Abril de 2008, aquando da apresentação, na biblioteca da ESAF, do livro de poemas – Romance - de Francisco Carmelo.
Romance fica para sempre, como para sempre ficará, na nossa memória, a figura deste homem, professor e poeta, nosso amigo, que agora partiu na sua insaciável busca do infinito.
A família, a escola, a comunidade de todos aqueles que com ele privaram perdem a presença de um amigo, com o seu sorriso largo a par da sua circunspecção, com o seu conhecimento do mundo da poesia e da literatura, a par da sua veia poética. Tantas foram as vezes que lhe ouvimos poemas ditos em diferentes espaços, uns feitos quase de rajada, quais insights, outros resultado de tecedura mais lenta, burilada. Ficará a memória, não apenas da sua forma de ser e estar no mundo, mas também daqueles momentos (e como foram brilhantes, tantas vezes) quando falava da poesia, da literatura, da beleza das palavras, das suas influências: Herberto Hélder, Eugénio de Andrade, Ruy Belo, Maria Zambrano, … Tantas.
Homem de leituras (imensas), também de vivências (intensas, deixava intuir), colega da lide docente, a quem os alunos na escola, na rua, noutros lugares, nunca deixavam de acarinhar: “olá Prof. Carmelo! ”. Colega presente na vida cultural da Biblioteca que, sei-o bem, apreciava, como apreciava os livros…sim os amáveis livros, os livros de que se fazia acompanhar, para os quais olhávamos curiosos, querendo descortinar as leituras de que se alimentava.
Nos últimos tempos, chegava com um poema, deixava-o e partia, para no dia seguinte voltar com outro…
O último que nos deixou sobre a mesa, partilhámo-lo aqui:
A beleza da superfície das ondas
Imitar as gaivotas
Uma álea entre os seres
Bosque de luz
Conflui no silêncio
Desperta para a voz
Enrola-se num corpo
Vibra na paixão
Abre as letras
Segreda o universo
Une-se às igrejas
Aprofunda o poema
Entrego-me à paisagem
Resulto em segredo
Prendo-me ao ser
Arrasto-me nas palavras
Fundo-me nas imagens
Prendo-me aos sonhos
Envolve a luz
Tece o fundo do amor
Cozinha para os filhos
Semeia a dádiva
Continua as palavras
Aprofunda os seres
Abre-se ao mar
Continua os rostos.
Francisco Carmelo, 14.2.11
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