6 de fevereiro de 2008

Imperador da Língua Portuguesa

Padre António Vieira (Lisboa, 1608 - Bahia, 1697)

Sintam a beleza das palavras, o ritmo, a musicalidade, a forma do texto... sintam as imagens que fluem como que aladas, porque de aladas palavras se desprendem.

Eis um curto excerto do Sermão do Espírito Santo (em defesa dos índios brasileiros):

«Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão, e começa a formar um homem - primeiro membro a membro, e depois feição por feição, até a mais miúda: ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui desprega, ali arruga, acolá recama; e fica um homem perfeito...» _
Padre António Vieira


E aqui F. Pessoa, num excerto da Mensagem (1ªParte- O Encoberto) em verdadeira celebração:

O céu ´strela o azul e tem grandeza.

Este, que teve a fama e à glória tem,

Imperador da língua portuguesa,

Foi-nos um céu também.


No imenso espaço seu de meditar,

constelado de forma e de visão,

Surge, prenúncio claro do luar,

El- Rei D. Sebastião.


Mas não, não é luar: é luz do etéreo.

É um dia, e, no céu amplo de desejo,

A madrugada irreal do Quinto Império

Doira as margens do Tejo

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