O que nos diz Jocobo Jimenez, aluno do 11º F (ESAF), sobre este livro que leu, gostou e recomenda:
Relato de um NáufragoAutor: Gabriel García Márquez
Editor: Dom Quixote
Coleção: Ficção Universal
Edição: 1ª | 2011
N.º de págs.: 128
Categoria: Romance
Editor: Dom Quixote
Coleção: Ficção Universal
Edição: 1ª | 2011
N.º de págs.: 128
Categoria: Romance
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"Na Biblioteca da nossa escola, orgulhamo-nos de possuir uma abrangente coleção de obras de Gabriel García Márquez ou, para nós, simplesmente Gabo. Como colombiano, sinto um orgulho especial ao ver os seus romances alinhados nas prateleiras: cada exemplar é um pedaço da nossa alma, pronto a ser partilhado com leitores de todas as origens.
Em Relato de um Náufrago, Gabo transporta-nos, logo nas primeiras páginas, a bordo do navio ARC Caldas, um dos dois Antioquia-class destroyers construídos em Lisboa para a Marinha Portuguesa. Estes navios foram adquiridos pela Marinha Colombiana durante a breve guerra com o Peru, mas tal conflito terminou rapidamente e as embarcações só foram entregues após o fim do confronto. É neste cenário que, em 1955, após uma operação secreta de contrabando a bordo do Caldas, acontece o acidente que transforma para sempre a vida do marinheiro Luis Alejandro Velasco.
García Márquez desmonta a versão oficial segundo a qual o Caldas teria sido atingido por uma tempestade feroz, uma tempestade que, na verdade, nunca existiu. O verdadeiro motivo da tragédia foi a carga oculta de contrabando que comprometeu a estabilidade do navio. Ao revelar este encobrimento, Relato de um Náufrago torna-se um poderoso testemunho da censura imposta pelo regime militar colombiano, liderado por Rojas Pinilla (1953–1957), que procurava silenciar qualquer informação capaz de manchar a imagem do poder.
Do outro lado do Atlântico, recordamos igualmente o apertar de censura do Estado Novo em Portugal (1933–1974), onde as vozes críticas eram sufocadas e a verdade moldada conforme os interesses do regime. Neste contexto, a jornada solitária de Velasco, lutando por cada gota de água, enfrentando tubarões, resistindo ao calor escaldante e à sede insuportável, simboliza a busca universal pela liberdade e pela dignidade humana. Cada detalhe vívido faz-nos perceber como, mesmo no silêncio imposto pela autoridade, o espírito de resistência pode emergir com a força de uma tormenta.
Após o regresso triunfal à costa, Luis Alejandro Velasco foi reconhecido como herói da pátria: desfilou em carro pelas principais avenidas, recebeu medalhas honoríficas e até foi cumprimentado com beijos e flores pelas rainhas de beleza que marcavam presença nos concursos oficiais da época. No entanto, quando emergiram as verdades incómodas sobre o contrabando e a manipulação da informação, Velasco viu-se repentinamente desamparado. Expulso da Marinha, passou de símbolo nacional a cidadão anónimo, encontrando refúgio num humilde posto na bilheteira de uma estação de autocarros.
Velasco, que em tempos fora celebrado como herói nacional, acabou por viver o esquecimento com a mesma dignidade com que enfrentara o mar. Relato de um Náufrago lembra-nos que nem sempre a glória resiste ao tempo, mas a verdade, essa, permanece.
O que mais me emocionou neste relato foi a forma íntima como Gabo nos apresenta o marinheiro: a saudade dos entes queridos, as memórias de um almoço em família, o medo de nunca mais ver o sol nascer num novo dia. É uma obra que nos faz resistir com a coragem simples de Velasco, chorar com o peso do isolamento e vibrar com o triunfo final da verdade sobre o silêncio. Mais do que um testemunho jornalístico, este livro é um hino à transparência, à coragem de denunciar falsidades e ao poder transformador da literatura.
Se procuras uma leitura que combine o rigor do jornalismo com a paixão da ficção, não podes deixar de ler Relato de um Náufrago. Na nossa biblioteca, encontrarás não só a narrativa impressionante de um feito extraordinário, mas também a voz de Gabo e, através dela, a nossa voz coletiva de colombianos que acreditam na liberdade. Convido-te a mergulhar nesta história inesquecível e a descobrir como, mesmo em alto-mar, a verdade sempre encontra uma maneira de chegar à costa. Venham viver esta aventura e celebrar connosco a força da palavra."
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