D`este viver aqui neste papel descripto - em sessão de leitura encenada

Quinta-feira passada, dez e dez da manhã. 

Auditório da ESAF repleto de alunos e professores. No palco, um projetor de luz quente, uma mesa com um livro (D'este viver aqui neste papel descripto - Cartas da Guerra) e um maço de folhas de papel. Nas duas telas, imagens de uma guerra distante. Música. Silêncio. Mais música. Imagens em movimento. Uma porta que se abre. Um ator que se dirige à mesa e se senta. 

Depois: a leitura. A voz e a expressão. A voz que deu corpo a um conjunto selecionado de cartas, 60 minutos cartas. Cartas "escritas por um homem de 28 anos na privacidade da sua relação com a mulher, isolado de tudo e todos durante dois anos de guerra colonial em Angola, sem pensar que algum dia viriam a ser lidas por mais alguém" (nas palavras de Maria José Lobo Antunes e Joana Lobo Antunes, no prefácio ao livro).

Alberto Quaresma, o ator em palco, dava assim voz a cartas escritas por um homem que, em princípios da década de 1970, se encontrava em Angola, num teatro de guerra intenso (a guerra colonial), longe da mulher que esperava um filho(a), longe da mulher que amava. Esse homem chamava-se, chama-se António Lobo Antunes e é um dos mais notáveis prosadores da nossa Língua.

Assim aconteceu.

A interpretação e conceção do espetáculo esteve a cargo do ator Alberto Quaresma (cujo início de carreira passou pela Companhia de Teatro de Almada - 1978, entre outros projectos teatrais, tendo desempenhado inúmeros papéis ao longo de um percurso ligado à arte da representação, o último dos quais na peça "Purga", da dramaturga finlandesa Sofi Oksanen, com encenação de João Lourenço, no Teatro Aberto - Lisboa).  

Foi uma experiência de leitura pública que suscitou, para além da riqueza interpretativa e da recriação de atmosferas, uma mescla de emoções.
[A apresentação desta sessão, por via da biblioteca escolar, resultou da profícua parceria entre a nossa BE e o SABEbcl / Biblioteca Municipal de Barcelos / vereação da cultura]