19 de setembro de 2011

O deus das moscas - sugestão de leitura

Autor: William Golding
Editor: Público
Colecção: Mil Folhas
Páginas: 222
Ano de publicação: 2002
ISBN: 84-8130-506-5
(Ler+ - livro recomendado pelo PNL - Plano Nacional de Leitura) 
Disponível na biblioteca.


[Primeiro parágrafo]

"O garoto de cabelo cor-de-mel agachou-se, deixou-se escorregar ao longo do último troço do rochedo e encaminhou-se para a lagoa. Embora tivesse tirado o blusão, parte do seu uniforme escolar, e o arrastasse agora pela mão, a camisa cinzenta colava-se-lhe à pele e o cabelo encodeava-se-lhe na testa. À sua volta, a funda clareira rasgada na selva era um banho de calor. Rompia pesadamente por entre as lianas e os troncos quebrados, quando um pássaro, uma visão de vermelho e amarelo, cintilou numa fuga para o alto com um grito de feitiço. A este grito o eco respondeu com outro." (in O Deus das Moscas, p.5, Ed. Público, 2002)
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Serve a evocação do centenário do nascimento do escritor inglês William Golding (19 set. 1911 / 19 jun. 1993), a quem a Academia Sueca atribuiu, em 1983, o Prémio Nobel da Literatura,  para sugerirmos uma obra marcante na história da literatura universal do séc. XX, que possuímos no fundo documental e cuja leitura recomendamos vivamente. Trata-se do livro: "O Deus das Moscas" (The Lord of Flies), obra lida por sucessivas gerações de leitores em todo mundo, sendo que só nos países de língua inglesa regista mais de "14 milhões de cópias vendidas" (vide badana da capa da edição Público, Col. Mil Folhas, 2002), fora as inúmeras traduções em muitos países. 
Com uma carga alegórica notável, Golding empreende, neste romance de fascinante perturbação, uma viagem à natureza do mal, da violência selvática, do poder, que emerge entre os humanos em situações limite, pondo em causa o equilíbrio racional que sustenta a convivência social. A obra foi publicada em 1954, não muitos anos após a horrível II Guerra Mundial, e não esconde alusões alegóricas à ordem social e política, ao modo como se organizam social e politicamente as relações societais entre humanos, nem tão pouco esconde a sua dimensão pessimista. No cerne da narrativa está um grupo de meninos e rapazes, alunos de um colégio, que, na sequência da queda do avião (onde seguiam) numa ilha deserta, vêem rapidamente desmoronar-se as traves racionais e de civilidade que sustentam as relações nas sociedades estáveis e socialmente equilibradas, enquanto o instinto de agressividade e a ânsia de poder e domínio entre pares se sobrepõe paulatinamente. 
Este é um romance que, na aparente aventura de um grupo de jovens "náufragos" numa ilha perdida, fora do alcance da autoridade dos adultos, com a "liberdade" pela frente, vemos ser postos em causa ideais e princípios sobre os quais assentam as traves mestras da civilização, e onde a solidariedade e a cooperação entre pares é fortemente abalada. Uma narrativa que, contando uma história com tudo para ser plena de aventuras num local paradisíaco, enceta uma viagem aos recônditos mecanismos da nossa natureza quando confrontada com os limites, desde logo os da sobrevivência. Não é uma narrativa fácil, nem de entretenimento, antes um texto muito bem escrito, bem concatenado, e, claro, que suscita o pensar e nos impele à reflexão e talvez a olhar o mundo e o "outro" de um outro modo. Ao longo destas páginas que prendem, do início ao fim, haverá com certeza momentos de meditação no decurso da viagem. Quer encetá-la?

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