2 de novembro de 2009

Duende - performance poética


Noite de quinta-feira, 29.Out. Noite especial na Biblioteca. Noite de poesia feita voz, gesto, movimento corporal, em harmonia com o fundo negro e a estrada longa e serpenteante, rumo a um zénite indefinível, de onde emergiam negras figuras tocadas pelas palavras de duende, inquietante objecto poético de dilacerante beleza verbal.
Tomando como matéria-prima poemas de A. Franco Alexandre, J. Veiga, professor colaborador da Biblioteca Escolar, recriou toda uma atmosfera plena de "gravitas", num cenário onde figuras de negro (seus alunos, reincidentes no que concerne à animação cultural da BESAF) representaram verbo e soma, como que tomadas pela subterrânea vibração da matéria poética em cena.
A luz ténue incidindo sobre a boca de cena, o eremita estático, como petrificado na imensidão do tempo, o gafanhoto, a areia do deserto, as palmeiras e as humanas figuras (de negro trajando) sucedendo-se como que numa colagem de quadros desobedientes à lógica (e no entanto articuladamente sequenciados), abstractizantes, imagens materializando conceitos, contribuíram para a criação de uma atmosfera carregada de poesia, de um certo "pathos" amoroso, condizente com a longa noite de inverno que se anuncia até ao alvorecer da luminosa primavera.

É Halloween diziam uns, talvez pela fantasmática enunciação de belos poemas não de terror mas de desejo e estranheza, ou talvez ainda pela peça cinemática que se seguiu -um Frankenstein de negros e contrastantes tons de cinza sob tela negra. Outros, com o gosto cálido dos poemas que planaram os ares da nossa biblioteca, de poesia, diziam, ter sido aquele momento.

Esquecerão?

Quanto a nós, é-nos sempre grato ver poesia transmutada em acto.


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